Primeiro precisamos saber o que se entende por cura, pois vai além do que está no dicionário (e não é pegadinha!). Viver em uma cultura que preza pelo imediatismo faz com que o sentido se perca entre mensagens motivacionais ou não se procure a fundo entender o que é estar curado.
Cura-se dor de cabeça com neosaldina e ralado no joelho da criança com mertiolate e band-aid. Mas a dor que não-tem-nome e que se perde em nosso corpo acaba tendo um caminho diferente, pois primeiro vamos precisar nos aproximar de um possível nome para ela, o que já leva para uma grande questão em terapia – para então entender qual está sendo a sua função em nossa história. É perigoso quando tentamos retirar por completo um sintoma, pois não sabemos o que ele também nos sustenta.
A cura fala mais sobre um caminho a ser percorrido do que sobre algo a ser retirado – pois um sintoma que é disfuncional tem muito a nos diz-funcionar, como mencionou ontem Inês Catão no encontro da BFC. Ou seja, ele faz funcionar algo em nosso corpo, faz com que algo exista e nos diga o que fazer. Para isso entramos em terapia, quando algo que nos faz sofrer manda sinais e pede para ser dito. Por isso a análise vai além do que é um autoconhecimento, pois nela nos deparamos com o que nos dói, mas é nela mesma que damos contorno para nossa história e acolhemos nossas palavras.
Em 1880, Anna O., que era a paciente de Breuer usou o termo “Talking Cure” ou “A cura pela palavra” durante as sessões e essa expressão veio a se tornar a principal referência sobre o que é o trabalho da psicanálise. Na mesma época Freud abriu mão do trabalho com a hipnose para se entregar ao nosso tão famoso conceito, que é a transferência, relação terapeuta-paciente. Ele reconheceu que já não precisava da hipnose para fazer com que o paciente acessasse suas lembranças e que o inconsciente se fazia presente pelas palavras.
Então agora respondendo a pergunta inicial: Sim, a psicanálise e/ou terapia irá lhe curar… daquilo que você pode dar conta de bancar em sua vida, pois alguns sintomas são inconscientemente desejados. E com muito amor.
“Estar curado é poder reagir ao inesperado, por mais doloroso que seja, e reencontrar a capacidade de amar e de atuar.”
Nasio