A presença que cabe na ausência.

O tempo que fiquei distante das redes aconteceu sem uma intenção premeditada ou um prazo definido, simplesmente o afastamento aconteceu para dar lugar para outras questões. Em meio ao movimento atuante da clínica, seria visto como “loucura” nos dias de hoje  (onde a atualidade se faz também do virtual) me afastar de um dos meios em que divulgo meu trabalho. Ainda mais na transição de habitar o que é o início do clínicar, para esse momento que já não é início mas também não é vanguardista, precisei me tomar de ausência. 

O tempo de elaborar que vivemos nos dias de hoje é singular, ainda mais se estamos constantemente nas telas. Acaba sendo um desafio aos que estão se engajando no início de seus trabalhos durante a pandemia: cada vez mais relatos sobre excessos, tempo, acúmulo de funções.  

No que cabe a mim, comecei a perceber que as palavras não estavam vindo na mesma facilidade do que “antes” para serem colocadas, articuladas. A minha suposta criação estava habitando outro planeta que não me mandou localização do GPS.  Mas acolhi. (É isso que chamam de bloqueio criativo?)

A partir do momento que pude acolher, percebi que o que eu estava tomando como referência nesse período de “como era antes” desapareceu. Então não houve bloqueio, o que houve foi um espaço-entre. Uma possibilidade, uma cava, uma distância necessária entre os devires.

Estar no cerne do sofrimento humano, que é sustentar uma prática clínica, exige. E por vezes não nos damos conta da dimensão do que é isso. Estamos diariamente vivendo um recorte da atualidade, que precisa de contornos.

Quando existe a decisão de vestirmos doses de ausência, damos lugar à presença.

“O analista põe de si, põe o seu corpo e seu desejo na relação analítica. Ele se interessa por seus analisandos com uma curiosidade inesgotável e infantil.”

Forbes

“Um analista continua a aprender com seu inconsciente. Ser analista não o exonera desse testemunho. Ser analista não é analisar os outros; é, a princípio, continuar a se analisar, continuar a ser analisando – é uma lição de humildade.”

Miller

“O desejo do analista é o de transformar o particular em singular, fazer o analisando descobrir aquilo que o faz diferente e responsabilizar-se por essa diferença. Chega-se à singularidade, à sua diferença absoluta, quebrando a expectativa do todo, da completude.”

Forbes

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