Respirar é diferente de viver,
quando nos damos conta disso, a vida brota na gente de maneiras inexplicáveis
todos trazemos a marca de marias, do não-todo, a partir do momento que fomos marcados por um ato de nascimento, de criação, de um mistério.
Essa estranha mania de ter fé na vida, como diz Milton Nascimento, está para além de um olhar otimista, mas de desejo. É sobre o incessante flerte que temos com certas estranhezas. Afinal, basta viver para vislumbrar esse enigma que nos habita.
Há de se ter manha para misturar dor e alegria, para fazermos uma dança diante das constantes oscilações que nos surgem. Para deixar que idealizações caiam para poder amar e se deixar ser amado.
Talvez seja pela marca de Maria que permitimos nos aproximar da ideia da vida como ela é, nua e crua. Porém, ao mesmo tempo é essa marca que nos estende a mão, permitindo que façamos as costuras e bordejos necessários para que a vida seja verbo e aconteça.
(Na música de Milton, Maria foi uma mulher, mineira, vivia na beira de uma linha de trem com dois filhos.)